De fio ao pavio - I, II

I

Está em Africa o começo
O meio ficou em Espanha
Nos teus olhos o recomeço
Num tocar tudo se entranha

Está no frio deste Portugal
No verde da minha esperança
Na nossa paz sem igual
No teu sorriso de criança

Está em ti que me encantas
Na tua ternura sem fim
Na forma como me espantas
No teu saber gostar de mim

Está em mim, está ti.
Está nas mãos fazendo conchinha
Está na cumplicidade que sorri
Está num presente que se acarinha

II

A pureza está na simplicidade em que existes
Nessa forma simples de ser homem sem rodeios
Na maneira deliciosa que me pedes e não desistes
Na forma intensa que sinto um desejar sem freios

O desejo está em cada gesto teu
Lento reservado e tão transparente
Que me provoca em cada sentido meu
A vontade de me afogar no teu mar quente

A linha dos teus lábios
A mão que afaga a face
O cigarro pousado entre os dedos
Os olhos que se fecham lentamente


A candura de algo não planeado
As tuas mãos esticadas para mim
O teu olhar profundo cadenciado
Não peças amor eu estou em ti...