sábado, julho 14, 2012

suspiros

Bato com os dedos nas teclas mas o sentimento não surge, não surge a vontade, não surge nada, não tenho motivos para estar mal, não tenho motivos para estar bem, não tenho motivos para nada. Não sinto vontade de te pedir nada, não quero nada, não sei explicar o que sinto. Tenho dias assim, não tento sequer entender, dias que entro pela tua alma a dentro, que sinto o que todos sentem. Dias que amo o que todos amam, dias que sinto as dores de todos os desejos de todos. Vou vivendo assim, mais parece sobreviver. As emoções não surgem e dou por mim a saltitar no passado, não consigo apagar as saudades, não do sofrimento mas daquela vertigem, daquele aperto que nos faz sorrir. Questionando - me tantas vezes se eu gosto de sofrer, não sei o que sinto, apenas não sinto !!!
Estou enterrada no fim do início de nada, no limbo de tudo e gritando que não me sinto já, nem sei sequer quem sou, não estou feliz nem triste, nem contente, nem tão pouco delirante, sou meia de qualquer coisa sem sentido e no fundo apenas talhada à semelhança do pouco quase ignóbil sentido da vida que sempre desdenhei. Não esperava estar assim, mas bato nos botões e não sinto nada, eu não gosto de não sentir nada!!! Eu gosto de sentir, gosto de amar, gosto de ser surpreendida, tudo o que acontece está demasiado igual. Não acho que nada vá mudar e se suceder será para pior, nem tão pouco me surpreendo já.
Por isso mergulho novamente, na sala. no banco do carro, naquela visão do rio, na porta das traseiras da tua casa, na entrada do mosteiro, na escadaria que vai dar à praia. Na tua face enterrada no meu combro enquanto me seguravas por detrás, sentindo o vento do oceano despentear- me e o cheiro do mar se mistura com o teu cheiro. Como eu ainda sinto o teu cheiro, aquele perfume que se confundia com a tua pele macia e quente de canela.
Mergulho naquela tarde de ventania, naquele sábado, onde os aviões por cima das nossas cabeças voavam. Naquele carro que deslizava entre estradas pequenas, naquele olhar de soslaio que me fazias ao me veres ficar encolhida no banco ao teu lado enquanto tu testavas a maquina... Eu corria para ti, como o rio tão simplesmente segue o seu caminho para o mar, tu foste o meu mar. Mar onde me segurava vezes sem conta, onde cravava as unhas, onde me enrolava. O meu mar salgado de desejo, que me fazia desejar mais, que me fazia sentir viva, irreverente, temperamental. Meu mar alterado de pura tempestade que me fazia chorar de loucura e que tantas vezes me fez ficar quieta de saudade. Meu mar maior que me protegia que me amava que me deixava prostrada de desejo e calma de cansaço. Tu corrias para mim como a flor se voltava para o Sol, chegavas a mim e deslizavas sorvendo tudo o que te dava, fazias florescer tudo o que havia entre nós, todo o meu calor era teu, tu querendo sempre mais, eu desejando sempre tudo dar. Alturas havia que eu entendia o que era o desejo, nunca ele se expressou tão bem entre dois humanos, existimos para além do comum, fomos simples e complicados. Éramos ar, terra, água, fogo, sempre que os nossos corpos se cruzavam, recomeçávamos vezes sem conta, sem medo e com a mesma vontade do início, tão simples que éramos. Degustamos sabores mútuos sem nunca nos fartarmos, fomos mestres, caminhantes, soberbos, confusos e recomeçávamos tudo de novo... Entre nós não havia entraves tu dizias o que querias, eu explicava ao que vinha, não havia chatices, ninguém era dono de ninguém, ninguém explicava o que era certo, certo acontecia naquela praia, certo acontecia quando me tocavas e me seguravas na face mergulhando nos meus olhos para me veres vibrar em ti.
Certo acontecia quando do nada vinhas e me espalhavas pela casa, pela cama, pela mesa, me fazendo transcender, desejar, recomeçando tudo de novo. Certo aconteceu nas vezes em que vivemos cada instante a graça das nossas vidas se terem cruzado, a graça de aceitar o desejo sem o castrar, desejo que vivia dentro de nós, tão doce, tão selvagem que éramos.
Fazias-me sorrir quando me esperavas do outro lado da rua e me deitavas a língua de fora para eu me desmanchar a rir, tinhas alturas que te ponhas a suspirar tão profundamente que era impossível não fazer a rua a rir até chegar a ti. Os teus olhos riam, o teu olhar um sorriso permanente.

Ainda corro para ti, quando as lágrimas se aproximam dos meus olhos, afastando -as enroladas no meu mar.
Será que esperas que eu acorde?



3 comentários:

Unknown disse...

deste texto, sinto uma nostalgia profunda, como te entendo tão bem, vem! vem comigo nessa viagem da vida, deixar acontecer o que tem de acontecer, reconheço nestas palavras, um sentimento de perda, de angustia, de ansiedade, de viver. Acho apaixonante a maneira como as transmites, pois eu sinto-as, e pareço ter um dejavu, ao lê-las, infiltro.me nelas e reconheço-as, a outra metade, que tu escreves, anda por aqui, é só sentires, se não acordares, é pk estás num sonho profundo, no qual te resguardas, mas um dia, vais acordar e verás quem está ao teu lado, esperando... e aí não vais recomeçar, mas sim viver, intensamente o que te vai no sangue, no espirito, eu ajudo-te a acordar, e acordo-te com um beijo terno e meigo, bjs, e por favor, sê feliz. :-)


Fernando

Anónimo disse...

Aprendi remodelar o passado a guardar os tesouros a separar as recordações a multiplicar o bem estar e a dividir o que de mim vale a pena. Vale a pena sentir o que nos faz sentir bem, fazer bem a quem nos merece. A energia da Liberdade é díficil de compreender por quem não descobre os próprios gostos, sim até tudo tem um limite não vás sempre pelo mesmo caminho lembra-te que podes escolher, tens ainda o poder de decidir o que te leva sorridente e confiante é acreditar que és única.

Escreves como sempre cheia de latitude ;)

Bj

Daniel Aladiah disse...

Querida Laura
Por que razão a vida nos complica tanto a felicidade? Não estás sozinha nesse abandono...
Beijo
Daniel